1.5.16

Dia da mãe



"A investigação realizada no Brasil envolveu 6000 bebés desde 1982 até à idade adulta, de várias classes sociais e ambientes, e descobriu que aqueles que foram amamentados durante mais tempo provaram ser mais inteligentes, passaram mais tempo na escola e ganharam mais do que os que tiveram um período menor de amamentação (...)"



Esta notícia que saiu no Público e que vem sendo recorrentemente publicada e divulgada e que, sobretudo, vai passando de conversa em conversa entre mães, A-BO-RRE-CE-ME. 
Eu sou filha de uma mãe que nunca bebeu leite. Nunca. Nunca chegou a mamar porque detestava leite, nasceu a detestar e assim continua. Não acho que a minha mãe seja menos inteligente e mais falhada que a restante humanidade.
Depois venho eu, este caso especial de inteligência. Eu mamei uns míseros dois meses? Talvez, no limite, três meses?
As licenças de maternidade na altura em que nasci eram de três meses e, por essa razão, quem tinha de ir para um infantário não mamava mais que o tempo que estava em casa a gozar das maminhas da mãe no seu período de licença.
Antes do meu tempo, pouco antes, as licenças de maternidade eram de um mês. UM MÊS! Essas pessoas que mamaram um mês são hoje as pessoas que levam este mundo para a frente. São a maioria dos trabalhadores e contribuintes activos, entre muitas outras coisas que nem vale a pena elencar.
Pois pergunto eu:
Somos todos menos inteligentes que os que mamaram até ter dentes, ou até entrar para a escola?
Somos todos estúpidos e incapazes?
Temos todos menos sucesso e piores empregos e remunerações (bom aqui, talvez pense melhor...)?
Eu sinto-me lesada com estas notícias.
Mães deste mundo, por favor, não se massacrem com o facto de não conseguirem amamentar. Não sejam escravas das pressões sociais e cientificas e religiosas e sei lá mais o quê. Não se martirizem porque no dia em que o vosso filho tirar uma nega a matemática, foi porque não mamou. Não culpem a falta de amamentação no dia em que ele bater com o carro pela primeira porque isso pode ser só aselhice.
Ainda se me dissessem que a amamentação proporciona defesas e anticorpos e que era melhor beber mamas até aos dez anos que levar trinta vacinas, ainda vá, eu ia estudar melhor o assunto, agora falarem-me da falta de inteligência é que me dá cabo da mona.

E agora perguntam vocês:
Mas onde é que ficam os pais - homens - no meio disto tudo?
No bem-bom. No bem-bom. Lindos e intocados na foto de família porque, afinal, nem são eles que têm de dar de mamar.


[Este texto estava escrito há mais de um ano e decidi resgatá-lo hoje. Não foi fruto do novo estado de graça.]



1 comentário:

  1. Chego a este post depois de ter feito a travessia e ter gostado para lá de muito do modo poesia anterior. O modo poesia comoveu-me, este fez-me rir. Parabéns, DC, pela novidade e pelos textos.

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