26.2.14

O túnel




Imagina que acordas num túnel.
Não sabes onde estavas.
Não sabes como foste ali parar.
Abriste os olhos e estás num túnel.
Está escuro.
Vês, vagamente, o seu fim.
Está longe.
Tentas mexer-te e não consegues.
Estás deitado, de barriga para baixo.
Braços junto ao corpo.
Levantas a cabeça.
Mas não a consegues sustentar por mais que uns segundos.
Não irá melhorar.
Voltas a mergulhar a cara no peito e a testa no chão.
Estás dentro de um túnel apertado.
Se não agires começarás a sentir-te dormente.
Poderás ficar, para sempre, imobilizado.
Reages.
Tentas arrastar-te.
Mas não consegues.
Queres olhar para trás.
Queres saber qual a saída mais próxima.
Mas estás apertado.
Não te consegues virar.
Por isso nunca saberás.
Não tens alternativas à inércia.
Segues em frente.
Arrastas o corpo quase dormente.
Avanças um milímetro por hora.
Pensas que foi uma hora.
Talvez tenham sido cinco dias.
Nunca saberás.
Avanças lento como a morte.
Começas-te a questionar.
A tua mente afunda-se no medo.
Não, não te está a pregar partidas:
Estás mesmo perdido.
Irremediavelmente.
Quanto tempo aguentarás no túnel?
Sem uma solução.
Quanto tempo ficarás parado?
Convencido de que te moveste.
Lamentas agora teres-te metido nesse túnel?
Sem consciência.
Lamentas agora?
Que te tenhas metido de cabeça nesse túnel.
Sem pensar antes numa maneira de lá sair.

Ninguém te empurrou.
Não foi um plano maquinado por um inimigo.
Lembra-te do dia em que lá te meteste.
Confiante.
Sem medo.
Não foi um plano maquinado por um inimigo.
Porque, sabes agora, o teu maior inimigo.
És tu.