21.3.11

Dia da Primavera. Dia da Poesia.




Não sei fazer poesia. Não sei rimar. Não sei escrever. Não sei ser. Não sei viver. Não sei sorrir. Não sei falar. Não sei amar. Não sei mentir. Não sei rezar. Não sei pedir. Não sei voar. Não sei sonhar. Não. Não. Não. Não.
Não tenho a Primavera na minha vida. Apenas o Inverno me assombra. Vivo na escuridão das suas tempestades... e gosto desse sofrer a que me sujeito. A que me obrigo por acreditar não merecer melhor.
Mas isso era ontem. E nos mil dias antes de ontem. E, com certeza, nos outros mil dias que se seguiram ao dia de hoje. Mas hoje... hoje o Sol fez-me nascer. Vi um clarão cegar-me de felicidade. Senti que podia ser mais completa. Acho que vou ser. Acredito que este Sol, que nasceu para todos, hoje é só meu e só dedica os seus beijos quentes a mim. Amante nefasto em dias de choro sofrido, hoje sabe-me a sorvete de limão derretendo-se nos meus lábios que, desta vez, prefiro imaginar ferventes. Sinto-me irradiar luz, numa competição desigual com este Sol que hoje nos visita. Idiota, porque ninguém concorre com o Sol! Mas hoje... ai hoje... chega-me a apetecer apagá-lo apenas para que todos vejam a luz que sai de mim. Felicidade plena esta que me trás um novo sorriso e, inesperadamente, me deixa soltar uma gargalhada, mesmo que frouxa. Libertação. Sabe a libertação. Esta festa de luz, de cores que ganham vida onde antes se escondiam, a leveza dos pés que mal parece tocarem o chão, o ar leve, os cabelos que cheiram a jasmim, as mãos que parecem penas, os olhos que parecem sorrir. O calor une, realmente, todos os predicados do ser humano, mesmo daqueles que não têm alma, mesmo daqueles que não querem tê-la. Mas neste dia, em que o Sol brilha e a poesia pede para ser lida, podemos ser bons e dar, generosamente, a mão a quem nos passa a vida a pedi-la em surdina. Hoje não é dia de fingir que se é infeliz apenas porque isso pede um colo aos outros. Hoje é dia de andar em frente. Seguir a estrada rodeada de campos de flores douradas e roxas. De dar passadas largas a caminho do tal horizonte que jurava não existir. De palmilhar o planeta só para experimentar as atmosferas dos outros seres vivos. É dia de dizer "amo-te" às flores, à terra, aos animais, ao mar, ao céu, à Lua...
E a noite caiu. Chegou a amante eterna do Sol.  Chegou com o seu manto de noiva pura ainda por amar. Cândida. Melancólica. Ela espera que o seu amor lhe diga um poema antes de se deitar e lhe sussurre palavras pálidas antes de a deflorar. E ela abre-se para ele, na esperança de amanhã puder nascer mulher. Amanhã não será dia de poesia nem Sol, mas a Lua lá estará. Sem brilho. Sem alegria. Mas de barriga farta, mostrando ao mundo o filho que o Sol lhe deu. Amanhã não me vai apetecer ver o Sol, por ser um ingrato inconstante. Por ser um pai vergonhoso. Mas hoje consegui amá-lo por breves instantes. Agarrei-o até à dor. Amei-o com força. Rendi-me a ele. Porque amanhã... amanhã tenho medo de já não o ter.



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